Roteiro FuraBolha, T01, EP05, sobre Educomunicação, com Cláudia Moraes e Daniela Machado

FuraBolha Podcast
31 min readJul 1, 2021

EDUCOMUNICAÇÃO============================

TEMPORADA 01, EPISÓDIO 05 ======================

com Cláudia Moraes e Daniela Machado =================

ESTRUTURA:

TRILHA DE ABERTURA:[chiado que vai se estabilizando aos poucos/ Fran: Alô, Samara? Me escuta?/ eco + chiado/ Samara: Oi? Fran? Agora escuto sim, acho que sintonizou/ chiado estabiliza/ som de bolhas estourando + música animada]

Bolhas e música animada

INTRODUÇÃO

Samara: Olá olá, estamos de volta

Fran: E a gente espera que você que está nos ouvindo esteja bem

Samara: A gente deu umas leves surtadas nos últimos dias, mas nos disseram que são sintomas de estar vivendo no Brasil de hoje

Fran: Mas entre ansiedades e perrengues, estamos aqui, não desistimos do FuraBolha não

Samara: Eu sou Samara Wobeto

Fran: E eu sou Fran Barcellos

Samara: E no FuraBolha de hoje vamos falar sobre educomunicação. Solta a trilha!

[som de bolhas estourando e música animada]

[trecho de falas Cláudia: A educomunicação é, realmente, bastante ampla, né? por que ela pega duas áreas que são também muito amplas, que é a comunicação e que é a educação/ chiado/ Empoderar jovens, ou que eles consigam visualizar as potencialidades comunicativas, que eles consigam ter a crítica da mídia, que eles visualizar várias questões que a gente tem na atualidade/ chiado/ E essa aprendizagem, ela não é de um pra outro, ela é nesse encontro, né?/ chiado ]

PARTE 01 — EDUCOMUNICAÇÃO — com cláudia

Fran: A voz que você ouviu é da Cláudia Moraes

Samara: E antes da gente deixar a Cláudia se apresentar, já vamos avisando que esse episódio é um pouquinho diferente

Fran: Isso por que hoje a gente tem duas convidadas pra falar sobre educomunicação

Samara: A segunda você conhece daqui a pouquinho, que agora a gente vai voltar a falar com a Cláudia. Se apresenta aí, profe!

Cláudia [sonora]: Eu sou a professora Cláudia né, eu trabalho na UFSM, no Campus de Frederico Westhpalen, nos cursos de jornalismo e relações públicas, desde de 2006.

Fran: A Cláudia é formada em Jornalismo pela Unisinos e fez doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a UFRGS

Cláudia [sonora]: Então, eu sou doutora em comunicação e informação, que era a área de concentração deles, né? Eu trabalho na pesquisa com o jornalismo ambiental, comunicação ambiental, educomunicação e também coordeno projetos de extensão há um tempo na área de educomunicação

Samara: A Cláudia coordena um projeto de educomunicação chamado Mão na Mídia, e já trabalhou com audiovisual e educomunicação no Projeto Entre Linhas

Fran: Mas a gente vai falar deles um pouquinho mais adiante, por que primeiro vamos contextualizar o que é essa palavrinha que mistura duas áreas do conhecimento: a educação e a comunicação

Cláudia [sonora]: É, a Educomunicação, ela é, realmente, bastante ampla, né, porque ela pega duas áreas que são também muito amplas, que é a comunicação e que é a educação, né? Então, a gente tem comunicação e educação em praticamente tudo na nossa vida, né? Desde que a gente vai aprender a linguagem, que a gente vai aprender a se inserir no mundo, né? Na na na educação informal e depois quando a gente vai pra escola, na educação formal, tudo tá muito baseado na educaçao e na comunicação.

Samara: Se a gente parar pra pensar em cada uma das áreas, a da comunicação e a da educação, elas, por si só, já são abrangentes e tem muitas possibilidades. A educação e a comunicação são duas ferramentas preciosas para a construção do conhecimento. Imagina as possibilidades que a junção delas traz.

Fran: Esse entrelaçamento das áreas é mais que uma simples junção, porque gera um novo campo do conhecimento, um novo campo de estudo, que tem muito mais foco na prática.

Samara: A educomunicação é vista como uma área de intervenção, ou seja, ela não é pensada apenas como campo de estudos que analisa a relação entre as duas áreas, mas que vai discutir e refletir sobre esse intervir, sobre esse agir.

Fran: As práticas educomunicativas vão acontecer pensando na construção de processos de linguagem e de produtos que vão organizar as pessoas em torno de metas de aprendizagem

Samara: O lugar no qual essas práticas são implementadas, em geral, é na escola, mas elas também podem acontecer por meio da educação não formal, ou seja, por cursos, lives e outros espaços da comunidade que partilham conhecimentos da área da comunicação.

Cláudia [sonora]: Então, a educação e a comunicação, elas vão estar, né, sempre circulando nesses espaços e a educomunicação, como área de intervenção, é a possibilidade da gente olhar pra esse espaço, planejar, pensar em de que formas a gente vai construir, né, um ecossistema que a gente chama na educomunicação, como esse espaço onde as interações de comunicação e as interações de educação, elas vão concluir pra construção desse cidadão, né, empoderado, desse cidadão que vai construir seus próprios direitos, que vai estar antenado com a cidadania, né?

Fran: Tem a ver com a formação do pensamento crítico, com a ideia da busca pela autonomia do conhecimento. A característica principal da educomunicação é estar aberta pras possibilidades de construção e partilha dos saberes

Cláudia [sonora]: é um processo que sempre tem como base a questão do diálogo, da construção, da transformação social e por isso a gente fala de áreas de intervenção que abre muitos caminhos, né, pra atuação quer modalidade de educação.

Samara: Essas áreas de intervenção que a Cláudia citou são divididas em oito tópicos: um) educação para a comunicação ou para a mídia, dois) mediação tecnológica na educação, três) comunicação educativa, que é a produção midiática destinada a temas educativos, e quatro) a gestão educativa, que faz a articulação dos ecossistemas. Continua a lista aí, Fran

Fran: Pode deixar! Cinco) educação comunicativa através das artes, seis) pedagogia da comunicação, ou seja, as didáticas utilizadas por professores para ensinar sobre a área, sete) a reflexão epistemológica ou, em outras palavras, a pesquisa, e oito) a educomunicação socioambiental.

Samara: A educomunicação é uma prática facilitada ou implementada através de projetos, que precisam estar em constante renovação, até por que o mundo muda, as tecnologias de comunicação mudam, as lógicas das trocas comunicativas também, e as pessoas precisam acompanhar isso de uma forma ou outra

Fran: Só que essa parte tá faltando muito ainda, né? De todo mundo ter oportunidade de aprender e formar pensamento crítico sobre aquilo que consome. Por exemplo, se pararmos pra pensar nas notícias fraudulentas, quanta gente sabe identificar ou sabe o que é necessário prestar atenção pra identificar uma e não compartilhar ela? Pois é.

Samara: Quando eu e a Fran criamos o FuraBolha, no ano passado, essa era justamente a nossa maior inquietação: a explosão das fake news na área da saúde pública. A gente pensava muito naquela questão “pra que e para quem serve o nosso conhecimento?”.

Fran: Ironicamente, foi a partir da conversa com a Cláudia que a gente se deu em conta que o FuraBolha é um projeto de educomunicação. A cabeça deu um leve bug haha, mas fez bastante sentido. Então, o primeiro exemplo é justamente esse produto sonoro que você ouve agora.

Cláudia [sonora]: A comunicação é, principalmente, você estar em contato com o outro, né? E aí é a ideia da comunicação para a cidadania é isso, é transportar essa discussão que a gente faz, teoricamente pra uma intervenção dentro da escola, onde a gente vai construir juntos com os estudantes, professores, esse espaço, né, esse espaço de ahm comunicativo, esse ecossistema, né?

Samara: Muito da comunicação é troca e partilha. É diálogo. E na educação também deveria ser. E quando falamos em educação, não é apenas aquela formal, da escola, mas também outras formas de aprendizagem. Obviamente que a educação formal escolar deve ser levada em conta, uma vez que é no espaço da sala de aula que as crianças têm o primeiro contato com várias formas de conhecimento.

Fran: E por isso educomunicação também é potência. Se pensarmos na área de intervenção da comunicação educativa, por exemplo, ela não fica restrita somente aos conteúdos da área, mas leva em conta utilizar as ferramentas dela para o ensino e a partilha de todo e qualquer assunto.

Samara: Nesse ponto entra a educação socioambiental, que é uma das principais áreas de estudo da Cláudia, e que é um conceito levado em conta no Mão na Mídia, o projeto que a Cláudia coordena e que a gente vai abordar com mais ênfase pro final do episódio.

Cláudia [sonora]: os jovens, quanto mais eles têm essa noção de que a geração deles, né, vai conviver com a mudança climática e não vai ser uma coisa fácil, também é um, é um, é um peso muito grande. A questão da política, que a gente sabe que precisa de muita transformação, muita mudança, também tá sobre os jovens, porque as outras gerações fizeram algumas reformas, enfim, fizeram suas lutas, tiveram suas batalhas, né, mas a gente tem ainda uma crise na política pra resolver e é essa nova geração que tem que ser colocada a par disso, né, e aí, por isso, esse desafio da cidadania, né?

Fran: Nesse sentido, a educomunicação está intimamente entrelaçada com a ideia de cidadania e de democracia. A gente poderia aprofundar esse debate pensando nos modos de ensino da educação formal, da ideia deturpada que se tem de política, da demonização e criminalização da mídia e dos profissionais da comunicação, enfim, várias outras questões.

Samara: Mas uma coisa que é muito importante levar em conta é o modo como as tecnologias, cada vez mais modernas e, cuidado a redundância, tecnológicas, mudam as formas como as pessoas se comunicam e, principalmente, os usos que se faz delas.

Fran: Mas ao mesmo tempo em que essas tecnologias significam inovação e rapidez, elas também ampliam desigualdades. E isso se escancarou de forma muito profunda desde o ano passado.

Cláudia [sonora]: Realmente, a pandemia, né, ela veio realmente, com esse aprendizado junto, né, a gente não tem mais como deixar de se preocupar, ou deixar de pensar nas tecnologias como formas de acesso ao conhecimento, nas tecnologias como democratização da cultura, democratização do conhecimento, porque, justamente, como eu falei, uma das primeiras questões que a gente se deparou foi, justamente, a falta de acesso de alguns estudantes tinham em relação e aí a gente dá, dá exemplo dos estudantes, das escolas públicas, mas assim, até mesmo os nossos alunos, estudantes universitários, têm alguns estudantes que não tem o seu computador, uma câmera legal, que não tem um celular super, né, que possa fazer todo tipo de de mídia.

Samara: Pensar a educação e a comunicação sem levar em conta o contexto histórico, econômico e cultural dos estudantes é um erro. Uma criança que estudou a vida inteira em uma escola particular, com acesso livre a computador e internet em casa, teve muito mais oportunidades de contato com a tecnologia e de entendimento consciente dos seus usos do que uma criança que estudou em escola pública na qual os recursos eram sucateados e onde nem sempre tem computador ou até mesmo internet. Ou a questão das escolas rurais, onde às vezes nem sinal pega.

Fran: E aqui, é importante pontuar: a gente não tá querendo dizer que o ensino da escola pública sempre é ruim, ou que o da escola privada sempre é bom. Não, é apenas para pontuar que, uma vez que as oportunidades de contato com a tecnologia são diferentes, porque tem a ver com condições de acesso, o nível de conhecimento sobre esse uso também acaba impactado.

Cláudia [sonora]: Então isso aí é um desafio muito grande, né? Como tu colocou a pandemia mostrou coisas irreversíveis e um mundo, assim, que a gente vai ter que construir, né? Pensando em não deixar ninguém pra trás, né, porque a solução fácil é sempre deixando gente para trás, né, aquela coisa assim, vamos resolver com quem consegue nos acompanhar. E isso é muito, muito triste, né? Porque aí você não tá pensando nesse ideal, né, humanitário, que é a educação como um direito humano, que é a comunicação como um direito humano, que a possibilidade das pessoas interagirem de forma digna na sociedade. […] Não é tudo culpa do coronavírus, é culpa da gente não ter resolvido isso antes. […]

Samara: E nesse desafio também entra o papel dos educomunicadores, cada vez mais necessários. Se levarmos em conta que a ênfase na educação midiática vem com a digitalização da sociedade, o papel desse campo de intervenção é fundamental.

Fran: Até porque, além da digitalização da sociedade, o contexto sociocultural do surgimento do conceito leva em conta o direito à comunicação, que está previsto na Declaração Universal dos Direitos Humanos, e o direito à informação e à liberdade de expressão também. A tecnologia aliada à informação como possibilidade de produção de impacto social.

Samara: Pensando as lógicas que a pandemia nos impôs, é essencial o seguinte questionamento: até que ponto as escolas estão preparadas para acompanhar a evolução das tecnologias de modo que se consiga ensinar elas para os e as estudantes? E depois, como fica?

Cláudia [sonora]: agora a gente vai ter que parar, pensar e construir um projeto de políticas públicas que atenda a essa demanda. em relação a formação, como eu coloquei antes, os professores e todos aqueles que vão atuar nessa formação educativa, cada vez mais vão ter que se formar educomunicadores, né. então, a gente sabe que a educomunicação é uma tendência, em função das metodologias ativas que o professor tem que usar, da própria tecnologia que ele tem que, de uma maneira ou de outra, modular, seja gravando uma vídeo-aula, seja utilizado uma tecnologia interativa na aula online, ou mesmo na escola, onde o letramento entra como uma abordagem até voltada pra esse empoderamento, pra essa construção de cidadania.

***** [trilha sonora formada por som de bolhas estourando, com fundo musical ritmado e animado ******

Samara: Uma pergunta que resume muito bem o ideal do conceito de educomunicação é a seguinte: Como a gente vai fazer isso juntos?

Fran: Sabe, Samara, que isso vai de encontro a uma das tarefas da universidade pública, né, que é a extensão universitária, um dos pilares da tríade ensino, pesquisa e extensão.

Samara: E esse é um dos pilares que a Fran e eu mais nos orgulhamos de termos construído como estudantes, por ser o pilar da troca, o pilar que rompe muros.

Fran: É verdade, mas isso por termos participado de projetos em que a extensão era aquela baseada em Freire, mais em específico aquela que ele trabalha no livro “Extensão ou Comunicação?”.

Samara: Dando um resumão, o educador traz nesse livro que universitário nenhum é dono da verdade, que a universidade possui sim um conhecimento muito importante, mas não o único. Que o trabalhador, que a práxis, também são fonte de sabedoria e que, por isso, a maior riqueza está no intercâmbio de realidades, no diálogo. É a presença curiosa no mundo que constrói um conhecimento emancipador.

Fran: Que responsa resumir Freire, hen? E se tu não leu esse livro, do nosso patrono nacional da educação, fica a dica. A gente vai deixar o link aqui na descrição

Cláudia [sonora]: Então, isso vai fazer muito mais a gente pensar que a extensão como área da universidade ela deve ser muito mais comunicação no sentido de compartilhar ideias, de saber ouvir, de fazer o diálogo, do que simplesmente estender, né? Porque a palavra estender nessa obra ele explica direitinho isso, né? A palavra estender ela é meio que, como se só a universidade tivesse conhecimento, ela vai estender, ela vai alcançar e, na verdade, isso é uma ideia antiga da extensão universitária, de que a universidade vai lá e vai, vai entregar alguma coisa pronta.

Samara: Freire fala que a educação, nos moldes formais, é uma educação bancária, que lembra a ideia tanto de banco escolar, quanto de banco onde são depositados objetos e dinheiro. O aluno seria um depósito de conhecimento, que recebe, mas não troca. E na ideia de Freire, a educação deve ser emancipadora, de diálogo e de partilha.

Fran: Outro autor que fala sobre essas questões é Jesus Martín-Barbero. Em um artigo dos anos 2000, e lá se vão vinte e um anos dessa crítica, ele comenta que o modelo predominante da educação formal é o vertical, ou seja, de cima para baixo, em que a autoridade é o professor. O nome do artigo é “Desafios Culturais: da comunicação à educomunicação”. Vamos deixar o link na descrição do episódio também.

Samara: Um dos pontos que Barbero toca é de que não adianta inserir as tecnologias na sala de aula se o modelo de ensino vertical se mantém o mesmo. Abre aspas: inserir nesse modelo meios e tecnologias modernizantes é reforçar ainda mais os obstáculos que a escola tem para se inserir na complexa e desconcertante realidade da nossa sociedade. Fecha aspas.

Fran: Meio que na ideia de que não adianta inserir a tecnologia se os estudantes não sabem como usar delas.

*

***** [trilha sonora formada por som de bolhas estourando, com fundo musical ritmado e animado ******

[trecho de falas Daniela: Então, é muito importante, a gente tem muito poder agora, poder de ter voz, de encontrar uma audiência real/ chiado/ Várias habilidades que são conectadas com a educação midiática/ chiado/ Hoje em dia não é mais uma vantagem você ser educado mediaticamente, ao contrário, é uma desvantagem debilitante não ser/ chiado]

PARTE 02 — EDUCAMÍDIA — com Daniela

Samara: Mudou a voz, né? É por que, como a gente te disse antes, hoje temos não só uma, mas duas convidadas maravilhosas

Fran: E essa que você acabou de ouvir é a Daniela Machado. Quer se apresentar pra gente, Dani?

Daniela [sonora]: Bom, eu sou a Daniela Machado, é um prazer tá aqui com vocês, gravando para o podcast FuraBolha.

Samara: A Daniela é jornalista e trabalhou por vinte anos em redações, como redatora, repórter, editora. Diz ela que fez um pouquinho de tudo

Daniela [sonora]: Em 2018, um pouco intrigada com a maneira como minhas filhas encaram o universo das notícias, eu comecei a pesquisar e aí me encontrei com a educação midiática, um ano depois entrei no EducaMídia

Fran: O EducaMídia é um projeto de educação midiática que a Daniela coordena. Ele surgiu na virada de 2018 para 2019 como uma iniciativa do Instituto Palavra Aberta

Daniela [sonora]: E ele foi, realmente, oficialmente criado, né, divulgado, em junho de 2019. E é muito interessante ver, porque, apesar de não ter tanto tempo assim, a gente conseguiu alcançar muitas escolas, muitos professores o que mostra que o entendimento do universo da informação é muito importante e que, uma vez, apresentado a esse tema, o professor tem, sim, muito interesse, muito, muita curiosidade em saber mais, em entender como é que ele pode levar questões ligadas à comunicação pra sala de aula.

Samara: O Instituto Palavra Aberta é uma organização sem fins lucrativos, que já tem 11 anos, e que reúne as principais associações ligadas aos veículos de comunicação. A grande bandeira deles é a defesa da liberdade de expressão.

Fran: E um dos projetos desse instituto é justamente o EducaMídia, e trabalha com o elo de três eixos: o consumo de informação de forma crítica, a produção responsável de conteúdo e a participação cidadã.

Daniela [sonora]: A educação midiática é um guarda-chuva bastante amplo. E a gente acredita que o grande objetivo da educação midiática é fazer com que todos estejam preparados para consumir informações de uma maneira bastante reflexiva e crítica, mas também para produzir conteúdo, produzir informação de forma responsável. Já que hoje nós todos somos ao mesmo tempo consumidores, mas também produtores de conteúdo, né? A internet, em especial, as redes sociais, possibilitaram essa fusão de papéis.

Samara: A educação midiática, que a Dani menciona, é uma daquelas áreas de intervenção da educomunicação que a gente mencionou antes, sabe? E, como nos disse a Dani, ela é um guarda-chuva bem amplo, porque abarca muita coisa

Fran: E pensar na educação midiática requer pensar naquilo que a gente já citou no primeiro bloco do episódio: o acesso à informação, o entendimento das mídias, do papel da comunicação, e, claro, a interferência da internet e das tecnologias nesse processo.

Daniela [sonora]: É de fato a partir do entendimento do universo da informação, cada um poder ter sua voz, poder se mobilizar, poder participar do debate público. Então efetivamente participar da sociedade conectada.

Samara: Uma coisa muito interessante é que, na base da motivação pra criação do EducaMídia, está um mapeamento que o Instituto Palavra Aberta vinha fazendo, sobre iniciativas que tratavam do universo da informação

Daniela [sonora]: E aí, eles foram notando que, até então, quando se falava de liberdade de expressão, tinha um olhar muito pro retrovisor, muito a questão dos tempos da ditadura, da censura, né? Pré-democracia antes da Constituição. Enquanto que a gente agora, né, vive uma série de outras questões ligadas a redes sociais, discurso de ódio, desinformação e fake news. Enfim, há muitos outros temas e eles não vinham sendo tão estudados quando a gente fala de liberdade de expressão

Fran: A partir disso, o grupo percebeu que faria muito sentido ter um programa de formação de professores, mas que, pra além disso, também pensasse na sensibilização da sociedade como um todo pro entendimento desse universo. E convenhamos, ele mudou muito nos últimos anos.

Daniela [sonora]: É um mundo muito diferente daquele em que eu cresci, em que a gente tinha poucos veículos que falavam com muitas pessoas. Hoje a gente tem muitas pessoas falando com outras, muitas pessoas e a todo tempo. É muito bacana, é muito poderoso, claro, ter mais informação, é sempre melhor do que ter pouca informação, mas a gente precisa se preparar, né? Pra não cair nas armadilhas das fake news, pra entender a diferença entre um fato e uma opinião, pra reconhecer o discurso da publicidade.

Samara: Se antes se discutia a democratização da mídia num universo em que a TV e o jornal impresso eram os principais meios de informação, hoje essa discussão não pode deixar de lado as redes sociais digitais, por exemplo

Fran: Mas voltando ao Educamídia, a Daniela nos contou que a primeira fase do projeto levou em conta mapear os assuntos de interesse, quais temas serviriam para, entre aspas, abrir as portas e conquistar o interesse do público.

Daniela [sonora]: E aí, em relação ao público, também, a gente tinha que fazer algumas escolhas, porque a ideia é que a educação midiática é algo, a gente sempre tem o que aprender, né? Não dá pra gente dizer que, ah, acabou agora, eu fiz um cursinho de algumas semanas e sei tudo. Até porque as ferramentas vão mudando, a forma como a gente se comunica vai evoluindo. Então, a gente entende que era uma conversa a ser feita com a sociedade de uma maneira geral. Mas também não dá, vou falar com a sociedade toda. Qual que é a sua estratégia, né?

Samara: A estratégia inicial foi fazer isso através da formação de professores, para que estes pudessem agregar conhecimento e se capacitarem para entregar um ensino melhor sobre jornalismo e outras formas de comunicação dentro da sala de aula

Fran: Mais recentemente, o projeto começou a falar diretamente com os e as estudantes dos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio

Daniela: Porque é uma idade, a gente entende que a educação midiática o quanto antes, melhor. Mas, a gente também vê que a partir dos seus 12, 13 anos, é o momento em que realmente as crianças e adolescentes estão nas redes sociais, né? Oficialmente eles só poderiam estar aos 13 anos, mas, enfim, eles têm um contato com grande universo da informação e aí, realmente, é bastante importante que eles façam algumas reflexões, porque tem muita oportunidade lá, né, mas também tem alguns desafios.

Fran: E esse debate sobre comunicação nas escolas é algo que a própria Base Nacional Comum Curricular, A BNCC, instituiu.

Samara: Pera, deixa a gente te explicar, a BNCC é um documento normativo que define o conjunto de aprendizagens essenciais. O principal objetivo é balizar a qualidade da educação no país por meio de um patamar de aprendizagem e desenvolvimento a que todos os estudantes têm direito

Fran: Na BNCC tem três competências que dizem respeito à área: na competência da Comunicação, o ou a estudante deve saber utilizar diferentes linguagens, sejam elas verbais ou não verbais, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos.

Samara: Já a competência que fala da cultura digital aborda a compreensão das tecnologias de informação e comunicação de uma maneira crítica, reflexiva e ética. E a competência da argumentação leva em conta o desenvolvimento da capacidade de argumentar de forma crítica, com base em dados e informações confiáveis.

Daniela [sonora]: E aí, pros anos finais do fundamental e no ensino médio, aparece muito claramente várias habilidades que são conectadas com a educação midiática. Tem inclusive um campo dentro de língua portuguesa que chama campus jornalístico midiático. Então, em língua portuguesa, os alunos têm necessariamente que fazer conversas e tentar produzir respostas pra combater fake news e desinformação.

Fran: Esse é um dos modos de atuação do EducaMídia. Na pandemia e na impossibilidade de viajar, o projeto tem acontecido de maneira virtual, com cursos, oficinas e capacitações.

Samara: Inclusive, no site deles, tem vários materiais e ferramentas que podem ser usados pra educação midiática, incluindo planos de aulas para professores, um glossário e até uma biblioteca!

Fran: Além disso, você consegue baixar gratuitamente o Guia da Educação Midiática. Você pode acessar o site pelo link educamídia ponto org ponto br. A gente vai jogar esses links nas nossas redes também, mas já anota aí caso tenha interesse na temática.

Samara: Mas, voltando ao papo com a Daniela. Onde é que a gente tava mesmo?

Fran: A gente tava falando sobre a BNCC e estratégias de aplicação da educação midiática

Samara: Ah, é mesmo, tá contigo, Dani!

Daniela [sonora]: E aí a gente entendeu, se a gente começasse mostrando que, olha, nós podemos te ajudar, escola, a aplicar, né, a desenvolver habilidades que você já precisa fazer, porque estão neste documento chamado BNCC, a gente teria uma boa porta de entrada. Então foi um pouco estratégico, mas agora recentemente a gente tem procurado também falar com outros públicos. Por exemplo, pessoal acima de sessenta anos.

Fran: Pois é, é muito frequente a gente ouvir falar de idosos que usam a internet e caíram em algum golpe por whatsapp, ou que acreditaram e repassaram uma notícia fraudulenta

Samara: São pessoas que, no geral, não tiveram contato com esse universo em sua adolescência ou juventude, que não aprenderam a pensar na internet e na comunicação de forma crítica. Focar nesse público é muito importante, afinal, nunca é tarde demais pra começar a questionar o mundo a nossa volta

Daniela [sonora]: a gente também tá começando a olhar pro público de jovens eleitores, né? Embora seja um público parecido com o que a gente trabalha na escola, mas pensando no exercício da cidadania, né? Que vão votar pela primeira vez e como a informação é importante, uma formação, informação de qualidade, é a base para que a gente tome as melhores decisões, então a gente tá olhando especial esse público.

Fran: E esse olhar também é muito importante! Lá no episódio dois dessa temporada, em que falamos sobre comunicação pública com a Jaque Kegler, ela mencionou o exemplo do Plenarinho, vocês lembram?

Samara: O Plenarinho é um projeto do Legislativo e que tem o objetivo de conversar sobre política com crianças. Desde cedo, é importante que elas entendam qual é o papel da política para além da partidária

Fran: As crianças de hoje serão os adolescentes de amanhã, que iniciam a participação nas escolhas cidadãs a partir do voto, com 16 anos.

Samara: E Dani, como tem sido o retorno das ações do EducaMídia?

Daniela [sonora]: A gente não tem encontrado resistência, parece que uma vez apresentado ao tema, todo mundo tem muito interesse e reconhece a importância de se trabalhar com educação midiática E aí a gente tem tido alguns retornos bem interessantes de, por exemplo, professores que participaram por conta própria de alguma formação do EducaMídia, né? Sozinho individualmente, mas que conseguiram levar adiante a importância, a urgência da educação midiática pra rede onde eles trabalham e aí a própria rede teve interesse em também fazer uma formação mais ampla pros seus professores

Fran: A Dani nos contou que na modalidade virtual, o EducaMídia já conseguiu alcançar pessoas de praticamente todos os estados do país. Na última formação online para professores, tinha representantes nada mais nada menos de quatrocentas e trinta e cinco cidades do Brasil. É uma diversidade fundamental

Samara: E se, por um lado, a pandemia possibilitou esses encontros virtuais em que a logística de reunir pessoas de mais de quatrocentas cidades era muito mais complicada, ela também escancarou uma série de problemas como os que a gente já mencionou: desinformação, acesso à internet, entre outros.

Fran: Por exemplo, a conversa que a gente teve com a Dani, que é de São Paulo, ou com outras convidadas que já passaram por esse podcast, seria muito mais difícil antes da pandemia. Por esse lado, aproxima. Por outro, aumenta ainda mais o abismo e as desigualdades de quem já não tinha acesso e dependia da presencialidade pra entrar na internet. Caso de alunos que não tem nem internet nem computador em casa

Samara: Essa questão do acesso é uma coisa que nos incomoda muito. Pra quem é nosso ouvinte raiz, sabe que já abordamos isso de maneira mais aprofundada lá no primeiro episódio piloto, em que falamos sobre letramento digital com a Ana Elisa Ribeiro. E a pergunta é: é possível fazer educação midiática sem internet?

Daniela [sonora]: É claro que num país em que muita gente, como a pandemia escancarou, muitos alunos não tem como conseguir prosseguir com seus estudos, porque não tem acesso a internet, não tem computador, enfim, um tablet, um outro dispositivo, é uma questão muito grave, mas a gente entende que, também, uma vez conseguido o acesso, a gente precisa garantir que essa criança, que esse jovem também esteja preparado pra extrair o melhor do que a tecnologia pode oferecer. Então, a gente acha que precisa correr paralelamente, né? Vamos batalhando aqui pra questão do acesso, mais uma vez conquistado o acesso, a gente também tem que ter preparado o terreno pra que o uso seja mais fortalecedor possível, né?

Fran: Obviamente é possível fazer educação midiática sem internet, e alguns exemplos são inclusive de projetos muito próximos da gente.

Samara: O primeiro é o EduConexão, em que, antes da pandemia, se trabalhava oficinas nas escolas para abordar desde notícias fraudulentas até gestão de eventos e desinibição e oratória.

Fran: O segundo é o Ecolândia, um programa em uma rádio comunitária em que as pautas, os quadros e as notícias são construídos junto e de acordo com o interesse da comunidade local.

Samara: Esses dois projetos são exemplos vinculados ao Programa de Educação Tutorial da Comunicação Social da UFSM, o o nosso querido PETCom, que busca exatamente trabalhar o tripé universitário, do qual falamos lá no inicinho desse episódio.

Daniela [sonora]: E uma outra questão é que quando a gente fala de educação midiática, embora fique muito forte, né, internet, redes sociais, a gente entende que a educação midiática prepara as pessoas pra uma relação com a informação, seja ela a informação que vem na internet ou então que vem na embalagem daquele produto que a gente tá consumindo, ou então que tá no brinquedo, no jogo, que tá numa camiseta. Então, a gente não tá falando só do digital, a gente tá falando das mensagens com as quais a gente relaciona a todo momento, todos os dias, sejam ela digitais ou analógicas, né?

Fran: Uma coisa que a Dani nos falou e que nos marcou muito é que, como todo mundo já sabe, ou deveria saber, a comunicação e suas diversas possibilidades representam muito poder. Mas nem sempre estamos preparados para lidar com esse poder todo.

Samara: O universo da informação é gigantesco, e quando conhecemos as possibilidades, a gente consome a mídia e as redes sociais digitais de forma muito mais crítica e reflexiva. E é disso que a gente fala nos primeiros vídeos do projeto, que iniciaram lá no instagram, quando tentamos mostrar as nuances das fake news e como identificar elas.

Fran: É a partilha desse poder que tá na mão de jornalistas que aprendem sobre isso na faculdade ou no dia a dia da profissão.

Daniela [sonora]: A gente toma muitas das nossas decisões baseadas em informações, que quanto mais confiáveis, de mais qualidade essas informações forem, melhores serão as nossas decisões. Então, eu entendo que a gente fazer, realmente, estabelecer uma nova relação com as informações, com o conteúdo que que a que a gente tá exposto todos os dias, é essencial, até pra defesa da democracia. //

Samara: Realmente, um guarda-chuva bem amplo: olha que a gente já falou aqui de letramento digital, de política, de fake news, de tecnologias e seus usos, e isso tudo tem a ver com educomunicação. E formar pessoas para entender melhor a diferença de uma reportagem e de um artigo de opinião é fazer com que elas tenham mais criticidade na hora de ler um jornal ou abrir o site de um veículo jornalístico.

Daniela [sonora]: E não é que a gente queira que todo mundo vire jornalista ou que todo mundo precise saber sobre os detalhes da profissão. Não. É que a gente precisa que as pessoas conheçam pra poder defender a imprensa. E quando eu falo de defender o trabalho da imprensa, de jornalismo, não é fechar os olhos, porque tem pra erros. A gente sabe que tem erros, né? Que poderia ser melhor em alguns casos, mas até pra que as críticas possam ser mais assertivas, as pessoas tem que conhecer como que é o trabalho do jornalista, até pra cobrar que esse trabalho seja ainda melhor.

Fran: Estamos quase chegando no fim do segundo bloco, mas não podemos deixar de concordar que falta mesmo uma certa transparência. Isso afeta também a credibilidade da profissão. Afinal, tem muita gente que não confia em coisas que não sabem como são feitas.

Samara: Desde o primeiro semestre de jornalismo, e lá se vão uns três anos, me incomoda uma frase que ouvi uma vez: a de que o jornalismo não pode pautar o jornalismo. Eu acho que essa afirmação está errada. A gente deve, sim, falar sobre nossa profissão, sobre os processos dela e modos como ela é feita.

Daniela [sonora]: a partir do momento que a gente tem essa avalanche de informações que chega pra gente de todos os cantos, a todo instante, eu entendo que o jornalismo precisa descer um pouco do pedestal e abrir a cozinha e mostrar o que me diferencia de tudo isso que vocês tão vendo, o que torna uma reportagem produzida, com critérios, por, né, profissionais do jornalismo, diferente de uma mensagem que, simplesmente, brota no WhatsApp, né?

***** [trilha sonora formada por som de bolhas estourando, com fundo musical ritmado e animado ******

PARTE 03 — EDUCOMUNICAÇÃO NA PRÁTICA — com cláudia -

Fran: Depois do papo com a Daniela, a gente volta a falar com a Cláudia

Samara: Claro que nós não podíamos deixar esse episódio terminar sem falar dos projetos que citamos lá no início, né?

Fran: Cláudia, nos conta um pouco mais sobre o Entrelinhas?

Cláudia [sonora]: Então, o Entrelinhas é um projeto que visa a formação de jovens, crianças e jovens para o audiovisual, então ele traz toda a parte teórico, técnica e prática do audiovisual que a gente tem na área da comunicação, a gente leva em oficinas pras que participam, né, pros estudantes que participam. E ao final das oficinas, a gente tem cada grupo, né? De estudantes, tem um vídeo que é feito por eles mesmos, né?

Samara: O Entrelinhas tem até canal no youtube, com os vídeos das produções dos alunos. Vamos soltar um trechinho aqui pra você ouvir…

[trechinho áudio de um dos vídeos do YT: música melodramática, em volume baixo, e calma. Risadas e murmúrios entre palavras: “sapatão”, “escrota”, “desorgulho pra sociedade” “caminhoneira”; música triste continua, risos também, que aumentam de tom e quantidade]

Cláudia [sonora]: Então, qual é a base disso, né? A educomunicação, onde o processo de aprender a produzir o vídeo é um fluir do comunicativo, porque ele vai empoderar as pessoas para a expressão, para que elas possam utilizar a linguagem do audiovisual pra expressar suas ideias. Então, é um projeto muito rico,

Fran: O projeto tem mais de quarenta vídeos publicados. Se você ficou curiosa ou curioso, primeiro termina de ouvir esse episódio e depois procura o canal “Vídeo Entre Linhas”, lá no youtube.

Samara: E olha que chique, o projeto já recebeu até prêmio! Em 2016 o documentário “Fred Veste: a máscara do preconceito”, ao tratar das barreiras existentes entre bairros da periferia e bairros mais nobres, foi o ganhador do Prêmio de Melhor Curta Temática Social do Congresso Brasileiro de Produção de Vídeo Estudantil. Confere um trechinho aí!

[trecho do vídeo: música animada e ritmada; voz de jovem na narração: A gente não tá aqui pra contar algo novo, a gente vai falar sobre algo que as pessoas fingem que não existe, mas que está aí, todo dia, presente nas nossas vidas. Música aumenta de volume. Narração: O preconceito não existe só nas grandes cidades, com grandes favelas como no Rio de Janeiro, São Paulo ou Porto Alegre. Música aumenta de volume por aproximadamente 5 segundos e baixa de novo. Narração: Existe aqui, em Frederico Westphalen, e não é só a gente que percebe. Trilha sonora baixa de volume.]

Fran: Hoje o projeto é coordenado pela professora Janaína Gomes, também da UFSM do campus de Frederico Westphalen

Cláudia [sonora]: e ela conseguiu, mesmo assim, né, Com toda essa questão do, de ser tudo remotamente, conseguiu formar estudantes no audiovisual e eles fizeram né, foram dois vídeos, já dentro nesse esquema de fazer tudo de casa, então, foi um desafio e realmente faz a gente pensar cada vez mais, né, a importância das tecnologias pra esse processo de educação, enfim, de interação social que a gente tem na sociedade.

Samara: E o Mão na Mídia, Cláudia? Pode nos contar um pouco sobre ele?

Cláudia [sonora]: ele foi pensado no ano de 2019, durante uma DCG, uma disciplina complementar de graduação, que eu ofertei que chama né a Educomunicação, né. Então, eu trabalhei com os alunos, né, todos os pressupostos, os autores, trabalhamos, discutimos educomunicação e como o objetivo da disciplina seria formular um projeto de educomunicação agente formulou um projeto pra atuar numa escola aqui na região e a gente teve uma greve, né. Essas pessoas, naquela época, a gente acabou não conseguindo implantar o projeto propriamente durante o semestre, que seria o ideal. Mas ele ficou organizado como projeto e ao mesmo tempo a gente discutiu no departamento, né, a possibilidade de a gente juntar vários projetos e formatar um programa de extensão.

Fran: E no ano passado essa ideia virou um programa de extensão em educomunicação. O programa é diferente de um projeto, uma vez que ele é mais abrangente e ajuda a articular vários projetos.

Samara: A ideia é fazer uma mediação tecnológica para educação

Cláudia [sonora]: Então, a ideia do Mão na Mídia é justamente começar a fazer esse alinhamento, né, construir essa perspectiva de uma forma que vários projetos se integrem ao ao programa, né?

Fran: O Mão na Mídia tem instagram, se você procurar por ahoba mao ponto na midia, sem til, você acha. Lá você encontra divulgação de projetos como o EcoVozes, de educação para a sustentabilidade e muitas informações sobre educomunicação. O programa é financiado pelo FIEX, o Fundo de Incentivo de Extensão

Cláudia [sonora]: E o objetivo do Mão na Mídia é trabalhar a educomunicação como uma forma de empoderar jovens ou que eles consigam visualizar as potencialidades comunicativas, eles consigam ter a crítica da mídia, que eles consigam visualizar, né, várias questões que a gente tem na atualidade, com a relação as tecnologias, né, a questão das a relação que a gente tem com os dispositivos, enfim, vários assuntos que a gente vai ahm tratar, né?

Samara: Pensando nesses dois projetos que são muito muito interessantes, não tem como não pensar na escola. E já deu pra perceber que a gente tá falando bastante dela por aqui, né? Mas não tem como falar de educomunicação sem pensar no lugar em que a gente, enquanto indivíduos, tem o primeiro contato com a educação, né?

Cláudia [sonora]: os estudantes precisam dessa nova roupagem por que a complexidade que a gente tem do mundo informacional, comunicacional, digital, enfim, é grande que, pra ser cidadão, cada vez mais a gente vai precisar construir essa reflexão a partir das tecnologias. E a escola, como eu falei, é um palco privilegiado, por que eles estão ali, em um momento, pra aprender várias questões, e vai ser necessário aprender sobre como funcionam as mídias, de que forma a gente pode se proteger daquilo que pode ser golpe, que pode ser fake news, qual é nossa responsabilidade como cidadãos frente a isso.

Fran: Como foi falado lá no primeiro bloco, sobre extensão e Paulo Freire, a universidade tem um papel fundamental na construção de conhecimentos. E isso não é diferente na educomunicação. Os dois projetos que a Cláudia compartilhou com a gente são exemplos disso.

Samara: Quando se trabalha com comunicação, e isso é uma coisa que a gente aprende ao longo do curso mas também muito com o movimento estudantil, é a importância do diálogo. Comunicação é diálogo em sua essência. Educação exige diálogo e troca. A educomunicação, que conecta as duas, só faz sentido se pensada no coletivo, de forma integrada e sem individualismo. A ideia de que tem, ou ao menos deveria ter, espaço para todos e todas.

Fran: E como tudo é feito de histórias, a gente queria saber se tu tem alguma que te marcou e que queira compartilhar com a gente, Cláudia?

Cláudia [sonora]: Olha, tem muita coisa legal, sabe? Eu acho que desde o início do entrelinhas, assim, a gente teve um uma recepção muito grande, muito boa nas escolas, né, da região. O entrelinhas, ele foi focado pra justamente a gente ir pro interior, né? Então, nas linhas, em cada linha que a gente queria, a gente tinha uma recepção muito grande. Logo que a gente começou lá em antigamente, lá em 2008 a tecnologia ainda era muito, as pessoas não tinham, né? Poucas pessoas tinham o telefone celular, com algum tipo de câmera, então era uma tecnologia que não existia.

E apesar de sentir você pensar, ai, será, né, que eles vão se interessar. Se interessar vão sempre muito, sabe? O que eu me chamava sempre atenção é que o projeto dava a eles essa perspectiva de que existia uma produção por trás daquilo que se via pronto, né? Então, eu acho que é um um despertar muito importante que é, você ver que a produção ela tem um processo antes dela ser produto, né? Então, a gente tem um processo que constrói o produto.

[…] E quando a gente consegue trabalhar essa ideia de processo na comunicação, o próprio processo que eles fazem pro seu vídeo, eles também conseguem construir ou desconstruir a ideia de que a comunicação ela vai ser sempre neutra, porque quando eles pensam alguma coisa pra colocar o vídeo, eles têm um objetivo, então, ah, por que que é mostrar o desse personagem? Ah, porque eu quero, quero mostrar que ele tá emocionado, ou que ele tá assustado. Então, tu tá induzindo, né, uma uma linguagem, ela vai induzir uma percepção. E isso me chamava muita atenção como a prática de fazer o vídeo, trazer esses insights antes de dizer isso né?

[…] Todas essas narrativas, possibilidades narrativas, elas despertavam sempre, despertam, né, nos participantes dos projetos, essa essa coisa de, puxa vida, agora eu entendi, né? Agora eu entendi porque isso funciona desse jeito. E isso é, faz parte, né, dessa dinâmica educomunicativa que é de você ter esse despertar, de você ter essa possibilidade de crítica, de produtos de comunicação, né? Então, isso que sempre valeu muito a pena

***** [trilha sonora formada por som de bolhas estourando, com fundo musical ritmado e animado ******

Samara: Estamos chegando ao finzinho! Que episódio, heim?

Fran: Nem me fala, Samara, eu tava ansiosa por esse, com duas super referências

Samara: Vamos deixar elas falarem só mais um pouquinho? Daniela, chega mais

Daniela [sonora]: Eu acho que é interessante que a gente comece a posicionar a educação midiática como um direito da sociedade, né? Porque eh assim como a gente tem o direito de, né? De dar o acesso a informação, que a gente luta contra a censura, é importante que a gente também defenda que a educação midiática é o caminho seguro pra nós estarmos preparados pra realmente extrair o melhor do que é a internet, os, enfim, que todo o universo da informação pode nos dar.

Fran: Uma frase que a Dani compartilhou conosco, e que está no Guia de Educação Midiática do EducaMídia, é a seguinte: abre aspas, No ambiente atual e diante das inovações esperadas, não é mais uma vantagem ser midiaticamente educado; ao contrário, é uma desvantagem debilitante não ser. fecha aspas. A frase é do Paolo Celot.

Daniela [sonora]: é uma questão de inclusão, de equidade, de preparar todo mundo pra que todo mundo esteja no mesmo nível pra extrair boas informações, conseguir separar o joio do trigo, né?

Samara: Cláudia, quer acrescentar mais alguma coisa?

Cláudia [sonora]: Eu queria destacar, né? Agradecer vocês pelo convite, ao trabalho que vocês tão fazendo, como eu falei outra vez, né, vocês têm esse potencial educomunicativo também que é, quanto mais, né, é uma coisa interessante, né? A gente tá no, tipo, muitas pessoas falam, a gente tá vivendo a época da superinformação, né, e os perigos que ela traz, como a gente comentou antes, né? Essa coisa da superdigitalização, da superinformação, só que a gente só vai conseguir melhorar essa nossa coletividade se a gente continuar informando, comunicando e fazendo as coisas, entende? Então, a gente não vai combater essa superinformação com menos informação.

Fran: Aproveitando o embalo do agradecimento da Cláudia, deixo registrado nosso muito obrigada às duas pelo tempo e disponibilidade de conversar conosco sobre educomunicação e educação midiática. E ah, em especial, em meu nome, à Claudia, que foi minha professora lá em Frederico e me apresentou a extensão justamente pelo EntreLinhas.

Samara: E dizer que a gente faz o FuraBolha porque acredita nessa troca de conhecimento e na necessidade de que as pessoas saibam mais e mais sobre comunicação

Daniela [sonora]: eu que agradeço a oportunidade, sempre muito bom falar com, com novos públicos, sobre educação midiática e colocar um pouquinho dessa, dessa semente, né? De que sem isso a gente vai tá criando uma nova leva de fluídos, que embora possam até ter acesso à tecnologia e à internet, não necessariamente vão fazer o uso fortalecedor, né, desse desse material.

***** [trilha sonora formada por som de bolhas estourando, com fundo musical ritmado e animado ******

Fran: Chegamos ao final de mais um, né, Samara?

Samara:É, já é o quinto da temporada “Tornar Comum”, e pra dar um spoiler pra vocês, já temos as entrevistas de mais dois episódios gravadas, e também tem mais Ep com duplas vindo por aí

Fran: Tem algum palpite sobre os temas? Manda pra gente lá no insta, ahoba fura ponto bolha, no twitter ou então por email, anota aí: projetofurabolha@gmail.com

Samara: Conta pra gente o que achou do episódio? E se, assim como nós, também se apaixonou pela educomunicação?

Fran: Eu sou a Fran Barcellos

Samara: E eu sou a Samara Wobeto

Fran: Até o episódio seis, tchau tchau

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FuraBolha Podcast

Projeto criado por @samarawobeto e @franbarcellosm para falar sobre comunicação e tentar furar algumas bolhas 🎙🎈📌